II parte das recomendações de FC por João Barreiros
Na sequência deste post, seguem-se as recomendações de João Barreiros extraídas do catálogo da Cinemateca de 1984 nas temáticas O IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS, NATUREZA CONTRA O HOMEM e O SISTEMA CONTRA O CIDADÃO.
O IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS
a) Elevadores orbitais
Arthur C. Clarke
The Fountains of Paradise (1979)
Charles Sheffield
The Web Between the Worlds (1979)
b) Oniroterapia
Roger Zelazny
Dream Master (1966)
c) Linguagem e Comunicação
Ian Watson
The Embedding (1973)
The Jonah Kit (1975)
d) Astronaves arcas
Brian Aldiss
Non-Stop (1958)
Robert Heinlein
Orphans of the Stars
Harry Harrison
Captive Universe (1969)
e) Esferas Dyson (Uma concha que envolve o Sol construída à escala de um Sistema Solar)
Bob Shaw
Orbitsville (1975)
Kolin Kapp (Ciclo Cageworld)
Search for the Sun (1982)
The Lost World of Cronus (1982)
The Tyrant of Hades (1982)
Star-search (1983)
Frederick Pohl e Jack Williamson (Ciclo Cuckoo)
Farthest Star (1975)
Wall Around a Star (1983)
Michel Jeury
L’Orbe et la Roue (1983)
f) Transmissores de Matéria
Algis Budrys
Rouge Moon (1960)
David Langford
The Space Eater (1982)
Harry Harrison
One Step from Earth (1970)
Larry Niven
A Hole in Space (1974)
John Brunner
Web of Everywhere (1974)
g) Pantropia (adaptação de seres vivos a outros ecossistemas)
James Blish
The Seedling Stars (1952)
Michael Coney
The Jaws that Bite, the Claws that Catch (1975)
The Hero of Downways (1974)
NATUREZA CONTRA O HOMEM
a) Catástrofes naturais
Larry Niven e James Pournelle
Lucifer’s Hammer (1977)
John Brunner
The Crucible of Time (1984)
Michael Coney
Winter’s Children (1974)
John Christopher
The World in Winter (1962)
Richard Cowper
The Twilight of Briareus (1974)
Brian Aldiss
Hothouse (1962)
b) Catástrofes provocadas
Frank Herbert
The White Plague (1983)
The Green Brain (1968)
Fritz Leiber
The Wanderer (1964)
J. G. Ballard
The Drought (1962)
John Brunner
The Sheep Look Up (1972)
Stephen King
The Stand (1981)
O SISTEMA CONTRA O CIDADÃO
a) Consequências da superpopulação
Harry Harrison
Make Room! Make Room! (1966)
John Brunner
Stand on Zanzibar (1968)
b) O sistema concentracionário
John Brunner
The Jagged Orbit (1969)
The Shockware Rider (1975)
Thomas Disch
Concentration Camp (1960)
334 (1972)
On Wings of Song (1979)
c) O sistema de castas
Fritz Leiber
A Specter is Haunting Texas (1969)
Larry Niven e Jerry Pournelle
Oath of Fealty (1981)
Roger Zelazny
Lord of Light (1967)
Donald Kingsbury
Courtship Rite (1982)
d) O Estado policial
John Petty
The Last Refuge (1966)
John Brunner
The Stone that Never Came Down
Yevgeni Zamyatin
We (1924)
Larry Niven
A Gift From Earth (1978)
Michael Bishop
Catacomb Yes (1979)
A Little Knowledge (1977)
Ursula K. Le Guin
The New Atlantis
Kate Wilhelm
City of Cain (1974)
George Turner
Beloved Son (1978)
Vaneglory (1981)
Recomendações de ficção científica por João Barreiros
Como prometido, eis que transcrevo, com a devida permissão do autor, a lista de obras literárias de ficção científica recomendada por João Barreiros que surgiu no catálogo da Cinemateca Portuguesa de 1984 dedicado a cinema de FC. A lista encontra-se dividida por várias temáticas: SPACE OPERA, O IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS, NATUREZA CONTRA O HOMEM, O SISTEMA CONTRA O CIDADÃO, APOCALIPSES E SÉCULOS SEGUINTES, A HUMANIDADE SOB O JUGO, O HOMEM E A MÁQUINA, O HOMEM PROGRAMADO e O MUTANTE.
Seria mais fácil digitalizar as páginas, mas tenho dificuldades em fazê-lo sem estragar a edição.
Devo dizer que é uma lista bastante abrangente e como está indicado numa nota do autor a anteceder as recomendações, há um reduzido número de obras disponíveis na língua portuguesa. De há 25 anos para cá, terão surgido mais traduções, ainda assim, embora uma ou outra editora publiquem regularmente obras de FC, o mundo da edição portuguesa ignora ostensivamente o género e muitos clássicos ficaram ainda por editar.
Posto isto, neste post, encontrarão as recomendações relativas a SPACE OPERA. As restantes temáticas irão surgir posteriormente.
SPACE OPERA
a) Ascensão e queda dos impérios galácticos
Isaac Asimov (Ciclo Fundação)
Foundation
Foundation and Empire
Second Foundation
Foundation Edge (1983)
Cordwainer Smith (Ciclo “Senhores da Instrumentalidade”)
You will never be the same (1953)
The Planet Buyer (1964)
The Underpeople (1968)
Quest of the Three Worlds (1966)
Three to a Given Star (1966)
Space Lords (1965)
Stardreamer (1971)
Janet Morris (Ciclo “Kerrion”)
Dream Dancer (1980)
Cruiser Dreams (1981)
Earth Dreams (1982)
Somtow Sucharitkul (Ciclo “Os Inquestors”)
Light on the Sound (1982)
Throne of Madness (1983)
b) As Civilizações Decadentes:
James Blish (Ciclo “Cidades no Espaço)
They Shall Have Stars (1957)
A Live for the Stars (1962)
Earthman, Come Home (1955)
The Triumph of Time (1958)
Alexei Paxini
Rite of Passage (1969)
Samuel Delaney
Nova (1968)
Norman Spinrad
The Men in the Jungle (1967)
The Void Captain’s Tale (1983)
George R. R. Martin
Dying of the Light (1977)
Jack Vance (Ciclo “Príncipes Demónio”)
Star King (1964)
Killing Machine (1964)
The Palace of Love (1967)
The Face (1979)
A Book of Dreams (1981)
c) As grandes guerras estelares
Samuel Delaney
Babel-17 (1966)
Joe Haldeman
The Forever War (1974)
Mindbridge (1976)
All my Sins Remembered (1977)
John Harrison
The Centauri Device (1974)
Richard Lupoff
Space War Blues (1978)
K. Hansen
War Games (1982)
d) A epopeia dos grandes planetas
Frank Herbert (Ciclo Dune)
Dune (1965)
Dune Messiah (1969)
Children of Dune (1976)
God Emperor of Dune (1982)
Heretics of Dune (1984)
Frank Herbert (Ciclo Pandora)
The Jesus Incident (1979)
The Lazarus Effect (1983)
Brian Aldiss (Ciclo Helliconia)
Helliconia Spring (1982)
Helliconia Summer (1983)
Helliconia Winter (1984)
Robert Silverberg (Ciclo Majipoor)
Lord Valentine’s Castle (1980)
Majipoor Chronicles (1982)
Valentine Pontifex (1984)
e) Os primeiros contactos
A. E. Van Vogt
The Voyage of the Space Beagle (1950)
Piers Anthony
Macroscope (1969)
Larry Niven com Jerry Pournelle
The Mote in God’s Eye (1974)
Larry Niven
Ringworld (1976)
Ringworld Engeniers (1983)
Ian Watson
God’s World (1979)
John Varley (Ciclo Gaea)
Titan (1979)
Wizard (1980)
Demon (1984)
Entre os Dois Palácios de Nagib Mahfouz
Não faltam muitas páginas para terminar o 1º volume da trilogia do Cairo de Nagib Mahfouz, publicada pela editora Civilização, numa tradução directa do árabe. Espanta-me ainda ser capaz de ler um livro tão longo (mais de 500 páginas que requerem bastante concentração) não relacionado com literatura fantástica.
Tinha lido há muitos anos um livro de contos do escritor egípcio, mas não ficara de todo impressionada. Todavia, a famosa trilogia do Cairo estivera sempre na minha mente e nos meus horizontes de leitura, tão só pelas referências da minha mãe à série televisiva egípcia baseada na trilogia de Mahfouz que fez furor há algumas décadas no mundo árabe.
Entre os Dois Palácios (1º vol.) é uma revelação para mim. Uma magnífica obra-prima de um escritor no pico florescente do seu talento, baseando a história nas suas próprias vivências.
Trata-se de um relato íntimo e acutilante de uma família, contaminado de humor, crueldade, medo e ternura, mas é também a história da própria Cairo, a nível político e social. A sociedade egípcia dos anos 20 é descrita em toda a sua plenitude através da família de Ahmed Abd el-Gawwad, um comerciante abastado e pai de família que mantém a esposa e filhos sob os preceitos rigídos da moral e tradição islâmica. A hipocrisia vigente impele à dupla personalidade do pai que, enquanto de dia é a imagem da virtude e autoridade indisputáveis, à noite os seus sentidos absorvem profundamente a vida de prazer e boémia que Cairo tem para lhe oferecer.
Comovente, e por vezes déspota, embora nunca desprovido de um estilo ligeiramente irónico que despe a tragédia do seu drama inerente, torna-se impossível não continuar a ler e fazer parte dos serões de café a que assistimos como intrusos e nos quais a família discute os eventos que abalaram profundamente o Egipto após a I Grande Guerra.
Através dos filhos varões, temos acesso a personalidades diferentes entre si. Yassin que se deixa levar pela natureza devassa numa fuga cega do tédio. Fahmi, o estudante de direito, sonhador e idealista. Kamal, a criança traquinas e inocente, com ideias muito próprias acerca da vida e religião. E depois temos as mulheres da história, em especial, Amina, a esposa fiel e submissa que jamais se rebela contra a vontade autoritária do marido, mesmo que o coração lhe sussurre o contrário. Ambas as filhas, Aisha e Khadija, são os seus tesouros escondidos, o espelho da virtude e pureza, em oposição às mulheres cantoras e boémias que dão colorido às noites de Cairo.
Alguns pormenores podem chocar a sensibilidade feminina ocidental, mas é necessário não julgar as acções do homem, nem a religião que lhe está subjacente. As próprias personagens são as primeiras a admitir que o pai de família, Abd el-Gawwad, é demasiado purista e conservador, mesmo para os padrões da época. Algumas características profundamente árabes permanecem inalteráveis como o forte sentido de união familiar e a noção sempre vigente de que o pai é o protector e guardião da família e é sua obrigação velar e assegurar o futuro de todos os membros.
Tal como um Balzac ou Eça, Mahfouz expõe ao máximo nas páginas da trilogia do Cairo a sua fina ironia que nada deixa intacto, em particular os alicerces tradicionais da sociedade islâmica. Os habitantes de Cairo são dissecados pelo seu olho penetrante e rara é a descrição que não transmita a vivacidade do espírito, assim como todo o zeitgeist de uma época politicamente conturbada.
Vivamente recomendada, a trilogia continua com O Palácio do Desejo e O Açucareiro, ambas já publicadas pela Civilização.
Love snapshot #4: Letter From an Unknown Woman
Gosto imenso da imagem acima. Não só porque pertence a um dos meus filmes favoritos, Letter from an Unknown Woman de Max Ophüls, mas também porque é a pura representação de uma mulher genuinamente apaixonada. Lisa Berndle (Joan Fontaine) sempre amou desde rapariga o artista Stefan Brand (Louis Jourdan), mas tímida e inocente como era, ele nunca desviou o olhar para a rapariga que o venerava em silêncio.
E quando um dia os seus caminhos se cruzam de novo, ele vê pela primeira vez a mulher graciosa e bonita, e os olhos de Stefan brilham como quem descobriu uma ave rara. Quando se conhecem melhor, e embarcam numa “viagem de comboio” que é na verdade uma viagem fixa enquanto os cenários vão sendo trocados, é completamente visível nessa cena o crescente fascínio de Stefan por Lisa, uma mulher que está a viver o melhor momento de sempre porque sabe que está a ser correspondida pelo grande amor da sua vida.
O calor que emana desta cena é quase palpável. Quase consigo imaginar as borboletas no estômago de Lisa por estar perante Stefan. E por um breve momento, pensamos que talvez ele não seja tão egoísta e vaidoso como aparenta ser, e queremos acreditar que as coisas não têm que terminar de forma trágica, e que ambos talvez poderão ser felizes para sempre porque tudo o que vemos naquele instante é a paixão que nutrem um pelo outro, não importando o quão breve seja.
Love snapshot #3: Raise the Red Lantern
O que faria uma mulher para se tornar a favorita de um homem? Para começar, ela odiaria todas as outras mulheres que disputassem o seu amor e atenção. Em Raise the Red Lantern de Zhang Yimou, nos aposentos sumptuosos e sedutores das concubinas, onde impera o vermelho da paixão, o mestre e senhor da casa, sempre de face oculta, favorece Songlian (a deslumbrante Gong Li), mas ela tem que aprender a sobreviver num ninho de víboras, ou será mordida pelo veneno dos ciúmes, da inveja e do ódio.
Para triunfar é preciso encarnar as qualidades de amor como convém a uma concubina, mas na sua inexperiência, ela é incapaz de lidar com a dissimulação de outros. E quando ela própria se enreda no labirinto das mentiras, vê-se sozinha e sem salvação no mundo subtilmente opressivo e cruel do palácio onde mulheres são mortas por adultério, perante os olhos cegos da justiça.
Mas por breve instantes, Songlian triunfa quando as outras concubinas aparentemente aceitaram o seu novo estatuto de favorita do mestre. Ela rejubila e cai no pecado da arrogância. Todavia, tudo é ilusório e efémero, e Songlian aprende da forma mais cruel que não é mais do que um objecto de posse, sem vontade própria. E que a vida de uma concubina é tão solitária e vazia como o quarto em que se vê encerrada na imagem acima, sem nenhum amor para dar ou receber.